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"Amusing ourselves to death" - Divertindo-se até a morte​

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Este livro muito interessante mostra como nossa cultura atual enfatiza a felicidade por meio de entretenimentos e diversoes que nada sevrem  para construir o carater humano.

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O último capítulo, "the Huxleyan warning", que nos fala da nossa ideologia do "lol", isto é, deste nosso modo de ser tão vazio e tão entranhado que mede tudo em gargalhadas e sorrisinhos idiotas
 

  • "Os que falam deste assunto precisam muitas vezes de levantar a sua voz até um nível quase histérico, sujeitando-se a ser classificados de cobardes, de incómodos públicos ou de Jeremias. Mas eles fazem-no porque o que eles pretendem que os outros vejam parece benigno, quando não é mesmo completamente invisível. Um mundo orwelliano (mundo controlado)  é muito mais fácil de reconhecer e combater do que um huxleyano (adoravel mundo novo). Toda a nossa experiência nos preparou para reconhecer e resistir à prisão quando os portões começam a fechar à nossa volta. Não é provável, por exemplo, que sejamos indiferentes às vozes dos Sakharovs e dos Timmermans e dos Walesas. Pegamos em armas contra um tal oceano de problemas, apoiados pelo espírito de Milton, Bacon, Voltaire, Goethe e Jefferson. Mas e se não houver gritos de angústia para se ouvir? Quem é que está preparado para pegar em armas contra um mar de divertimentos? A quem nos podemos queixar, e quando, e em que tom de voz, quando o discurso sério se dissolve em risinhos? Qual é o antídoto para uma cultura que é arrastada pelo riso?


Receio que os nossos filósofos não nos tenham deixado orientação neste assunto. Os seus avisos foram tradicionalmente dirigidos contra aquelas ideologias conscientemente formuladas que apelam às piores tendências da natureza humana. Mas o que se passa na América não é o resultado de uma ideologia articulada. Nenhum Mein Kampf ou Manifesto Comunista anunciou a sua chegada.

  1. Acontece como consequência não intencional de uma mudança dramática nos nossos modos de conversação pública. Mas é uma ideologia, apesar de tudo, pois impõe um modo de vida, um conjunto de relações entre pessoas e ideias, sobre as quais não tem havido consenso, discussão ou oposição. Apenas submissão. A consciência pública ainda não assimilou que tecnologia é ideologia. Isto apesar do facto de perante os nossos olhos a tecnologia ter alterado todos os aspectos da vida na América ao longo dos últimos oitenta anos. Por exemplo, teria sido desculpável em 1905 não estar preparado para as mudanças culturais que o automóvel iria trazer. Quem poderia ter suspeitado nessa altura que o automóvel ditaria como haveríamos de conduzir a nossa vida social e a nossa vida sexual? Que reorientaria as nossas ideias acerca do que fazer com as nossas florestas e cidades? Que criaria novas formas de expressar a nossa Apessoal e o nosso estatuto social?

  1. Mas entretanto já passou muito tempo, e a ignorância da partitura é agora indesculpável. Não estar consciente que uma tecnologia vem equipada com um programa de mudança social, manter que a tecnologia é neutra, assumir o pressuposto de que a tecnologia é sempre amiga da cultura é, neste momento mais tardio, estupidez pura e simples. Além disso, já vimos o suficiente por esta altura para saber que mudanças tecnológicas nos nossos modos de comunicação são ainda mais conduzidas ideologicamente que mudanças nos nossos modos de transporte. Introduza-se o alfabeto numa cultura e alterar-se-á os seus hábitos cognitivos, as suas relações sociais, as suas noções de comunidade, história e religião. Introduza-se a imprensa com caracteres móveis e far-se-á o mesmo. Introduza-se transmissão de imagens à velocidade da luz e far-se-á uma revolução cultural. Sem um voto. Sem polémica. Sem resistência de guerrilha. Aqui está a ideologia, pura, senão mesmo serena. Aqui está a ideologia sem palavras, e ainda mais poderosa pela sua ausência. Tudo o que é necessário para que pegue é uma população que devotamente acredite na inevitabilidade do progresso. E neste sentido todos os americanos são marxistas, pois acreditamos sempre que a história nos move em direcção a um paraíso pré-organizado e que a tecnologia é a força por trás desse movimento.

Assim, existem dificuldades quase inultrapassáveis para quem escreva um livro como este e o queira terminar com alguns remédios para a aflição. Em primeiro lugar, nem toda a gente acredita que uma cura é necessária, e em segundo lugar, provavelmente ela nem existe. Mas enquanto fiel Americano que assimilou a inabalável crença de que onde há um problema tem de haver uma solução, concluirei com as seguintes sugestões.
(...)"

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Estávamos prestando atenção em 1984. Quando ele chegou e a profecia não se concretizou, americanos pensativos se deram o direito de elogiar a si mesmos calorosamente: as raízes da democracia liberal se mantiveram firmes e, enquanto terrores aconteciam em outros lugares, os EUA ao menos não haviam sido visitados por pesadelos orwellianos.

 

Nos esquecemos, porém, que além da visão sombria de Orwell, havia outro ponto de vista - ligeiramente mais antigo, ligeiramente mais obscuro, mas igualmente assustador: aquela colocada por Aldous Huxley em Admirável Mundo Novo.

 

Ao contrário do que o senso comum dita até mesmo entre os mais intelectualizados, Huxley e Orwell não descreveram a mesma coisa: Orwell alerta que seremos subjugados pela opressão imposta de maneira externa, mas na visão de Huxley o Grande Irmão não é necessário para privar as pessoas de sua autonomia, maturidade e história. Na visão de Huxley, as pessoas acabarão por amar seus opressores e adorar as tecnologias que desfazem as suas capacidades de pensar.

  1. Orwell temia aqueles que desejavam banir livros; Huxley temia que não haveria razão para banir livros, já que não haveria ninguém desejoso de lê-los.

  2. Orwell temia aqueles que desejavam privar as pessoas da informação, enquanto Huxley temia aqueles que nos dariam tanta informação que seráimos reduzidos à passividade e ao egoísmo por conta disso.

  3. Orwell temia que a verdade fosse escondida de nós; Huxley temia que a verdade fosse sufocada em um mar de irrelevâncias.

  4. Orwell temia uma cultura que é refém constante de uma única pessoa, enquanto Huxley temia uma cultura trivial, obcecada com entretenimento, hedonismo e lazer.

  5. Como Huxley comentou na edição revisada de Admirável Mundo Novo, os movimentos pela liberdade e intelectuais que estão sempre alertas para se opor à tirania não levaram em conta o apetite quase infinito dos homens por distrações.

  6. Em 1984, Huxley comentou, as pessoas são controladas pela administração da dor; em Admirável Mundo Novo, elas são controladas pela administração de prazer.

  7. Em resumo, Orwell temia que aquilo que odiamos seja a causa de nossa ruína; Huxley temia que aquilo que amamos seja a causa de nossa ruína.

Este livro é sobre a possibilidade de que Huxley, e não Orwell, tenha acertado.

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